O QUE SIGNIFICA O USO DOS SOFTWARES LIVRES


Sempre ouvi falar em Software Livre (SL)  e sempre o associava a gratuidade, para mim, software livre era aquele que não precisava pagar para usar. Fiquei surpresa em conhecer a partir da leitura do texto de Bonilla e das discussões na aula sobre SL que ao contrário do que se pensava, o que caracteriza o SL não é sua gratuidade, mas a  disponibilidade do seu código fonte (a base da construção dos software – a sua receita) para que o mesmo seja alterado na perspectiva da produção e  socialização do conhecimento. Já os Softwares Proprietários (SP) são gratuitos, mas necessitam de uma licença para seu uso, e no seu modelo de negócio há a limitação do seu uso não disponibilizando o código fonte. Em síntese, o SL tem um modelo aberto e o SP tem um modelo fechado em sua estrutura para ampliação, produção e modificação dos mesmos numa lógica cooperativa de construção do conhecimento.
O que mais me chamou a atenção sobre os SL foi a sua concepção anticapitalista muito bem evidente e contrária a lógica mercantilista dos SP. Algo que nos foge o conhecimento, pois estamos tão condicionados a utilizar os SP que o conhecimento sobre a existência e natureza dos SL nos passa despercebidos e muito pouco discutidos, sobretudo nos cursos das licenciaturas.
Gostaria de marcar aqui, o que destaquei nas leituras a respeito do significado do uso dos SL livres:
  •   O uso dos SL significa um movimento social num plano político com liberdade. SL significa a democratização do acesso à tecnologia e ao conhecimento;
  • O SL é um novo/outro modelo de produção e socialização do conhecimento centrado na colaboração e na interação entre as pessoas numa metodologia descentralizada, cooperativa e criativa, rompendo com a ideia do poder centralizador da informação e do conhecimento;
  • O SL implica numa opção filosófica e envolve: liberdade, criação, cooperação e partilha do conhecimento.

Isso implica em construir uma nova cultura mais justa, mais solidária que oportunize a articular redes de produção e socialização que permitam a todos usufruir dos bens produzidos pela humanidade.
Que busquemos construir uma cultura que nos possibilite conhecer sobre as diferenças dos softwares livres e proprietários, para que optemos por um ou outro ao qual nos identificamos e que marque bem nossas escolhas políticas e ideológicas com coerência entre palavras e atitudes.

Referência: BONILLA, Maria Helena. Formação de professores e software livre: para além da dimensão técnica. In: FANTIN, Monica; RIVOLTELLA, Pier Cesare. Cultura Digital e Escola: pesquisa e formação de professores. São Paulo: Papirus, 2012. 
 

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Alfabetização e letramento: algumas considerações


O analfabetismo não é um problema individual. Consiste numa realidade social que necessita ser transformada. Ler e escrever são direitos de todos os cidadãos, desse modo, se faz necessário criar condições favoráveis para que o sujeito possa aos poucos dominar a leitura de textos e o código da escrita. A questão consiste em acreditar na capacidade do aprendiz, pois alfabetizar é desenvolver no indivíduo a construção de conhecimento em todas as áreas e conteúdos, seja qual for a sua situação social, econômica ou política, para que a sua atuação na vida seja o mais independente possível.
            Neste sentido, as práticas pedagógicas devem buscam a introdução ou o resgate de importantes dimensões da aprendizagem significativa e das interações, bem como dos usos sociais da escrita e da leitura, articulados a uma concepção de alfabetização e letramento, por entender a alfabetização como um processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabéticos e ortográficos que possibilitam ao aluno ler e escrever com autonomia. E por considerar o letramento como um processo de inserção e participação na cultura escrita, que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes formas de escritas no cotidiano e que se prolonga por toda a vida, com as possibilidades de participação nas práticas sociais.
Essa concepção baseada nos estudos de Magda Soares (2001) considera que alfabetização e letramento são processos diferentes, cada um com suas especificidades, mas complementares e inseparáveis, ambos indispensáveis. Assim, entende-se que a ação pedagógica mais produtiva e adequada deve contemplar, de maneira simultânea e articulada, a alfabetização e o letramento.
De acordo com os estudos de Soares (2004), no Brasil os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam, se sobrepõem e às vezes se confundem. O termo Alfabetização funcional (saber fazer uso da leitura e da escrita) aproxima o termo alfabetização de e letramento e que é divulgado pela mídia.
Vejo que o conceito de letramento está vinculado ao conceito de alfabetização, tanto na perspectiva teórica, quanto na perspectiva da prática pedagógica, num processo de invenção da palavra e do conceito de letramento e numa reinvenção da alfabetização. A invenção do letramento enquanto a construção da leitura e da escrita vinculada a práticas sociais se mostra sem dúvidas como sendo de maior importância, pois ela é mais do que simplesmente saber ler e escrever sem sentido nas práticas sociais e essa é realmente uma situação muito comum nas escolas e na sociedade em geral que afeta na compreensão da realidade, da autonomia e consciência crítica dos cidadãos.
O conceito de letramento relacionado as tecnologias da informação e comunicação é considerado como o que conhecemos por letramento digital e que de uma maneira geral a realidade nos mostra que muitas pessoas que necessitam adequar-se às novas situações que envolvem a tecnologia ou estão fazendo uso inadequado, ou mostram-se totalmente dependentes para executar ações necessárias para suas necessidades ou realizam algumas tarefas sem ter clareza e de maneira muito “primária” ainda muito distante das suas reais possibilidades.  
  


SOARES, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação. Jan /Fev /Mar /Abr 2004, nº 25.

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DA EXCLUSÃO SOCIAL À INCLUSÃO DIGITAL



A partir das leituras e reflexões sobre alguns textos que tratam do tema Inclusão Digital pude compreender um pouco sobre o assunto e repensar algumas coisas. Vamos começar pensando um pouco sobre a lógica do capitalismo  que resulta na exclusão no mundo do trabalho e na sociedade em geral. Bonilla e Oliveira (2011) trazem uma análise dessa lógica ao situar o desenvolvimento capitalista no Brasil em 1930, quando no novo modelo industrial os trabalhadores migram para a cidade, onde se mantém pobres, ocupando atividades informais, morando em favelas, com participação subordinada e alienada sendo essa estrutura imprescindível para a manutenção do sistema.

Castel (1998) trata da relação com o trabalho e defende que para entender o presente é preciso entender a história, sendo que o  presente é a herança e a memória. O sociólogo resgata essa relação enquanto suporte privilegiado de inscrição na estrutura social ao distinguir o trabalho estável que possibilita a integração, do trabalho instável que se situa na zona intermediária proporcionando precariedade e instabilidade, não sendo estes estáticos, podendo os indivíduos transitar da integração para a vulnerabilidade e também do contrário. Para tanto, o autor utiliza para definir essa conjuntura o termo “desfiliação social” nesse mesmo sentido ao propor analisar os graves problemas sociais gerados, os que estão em desvantagem social e, por conseguinte, a possibilidade de se pensar em uma intervenção de forma coerente nessa realidade social, que para ele não representa o “fazer sociedade” nessa dinâmica de separar e dividir, mas sim na de incluir e compartilhar tomando como base as ideias de Durkheim.

A exclusão social se amplia na medida em os indivíduos compartilham de carências e se tornam cada vez menos favorecidos do que é construído historicamente, especialmente na sociedade da informação. Desse modo, estar excluído socialmente significa estar fora, às margens  e estar incluído seria o mesmo que inserir e adaptar os sujeitos como seres ativos nessa complexa e múltipla realidade social. Mas não basta apenas fazer a relação exclusão/inclusão limitando-se a análise desses processos sociais, se faz necessário pensar e discutir as transformações possíveis dessa realidade.

Os termos exclusão e inclusão digital emergem na sociedade atual a partir do uso das tecnologias digitais, passando a compor mais um fator que privilegia os mais favorecidos socialmente. A universalização do uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC), passa a fazer parte do contexto da cidadania contemporânea mais na perspectiva do consumo do que na da emancipação. Lemos (2011), defende que a inclusão digital se dá quando o indivíduo é colocado num processo mais amplo de exercício pleno de sua cidadania e que deve ser pensada a partir do enriquecimento dos capitais cultural, social, intelectual e técnico, mas ao que me parece, pensando no contexto atual da educação, esse ideal está um pouco longe de acontecer apesar das políticas públicas de inclusão digital desde a primeira “versão” do PROINFO (programa nacional de informática na educação) 1997, até as mais recentes propostas nas políticas de inclusão digital que não se efetivam devido aos vários fatores no cenário da educação na sociedade da informação.

Posso resumir o que escrevi até aqui num grande “nó” e também numa inquietação diante das várias questões que me surgem a cabeça... pensar sobre a Educação brasileira,  suas políticas públicas, seus contextos e a que/quem tem servido, e sobre o papel da escola com um caráter essencialmente conservador e responsável pela transmissão do conhecimento na sociedade, de fato nos gera esse sentimento. A leitura do texto: Políticas públicas para a inclusão digital nas escolas (Bonilla, 2010), talvez me fez olhar diferente e menos inquieta ao perceber que mesmo de forma insuficiente e deficiente estamos caminhando para a perspectiva da universalização da inclusão digital, vista aqui como formação da cultura digital, mesmo que para isso ainda seja investido muito no sentido de tornar a escola como um lugar de formação de professores, alunos e comunidade escolar para a participação do movimento de transformação das formas de ser, conhecer, comunicar e produzir em sociedade através do uso das TIC e não apenas como meros consumidores. Uma das maiores questões da educação, a meu ver está relacionada ao repensar e ao refazer essas tensões entre as demandas das políticas publicas e a realidade educativa.


CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998 (Introdução).

BONILLA, Maria Helena; PRETTO, Nelson (org.). Inclusão digital: polêmica contemporânea. Salvador: Edufba, 2011 (prefácio e capítulo 1).

BONILLA, Maria Helena. Políticas públicas para inclusão digital nas escolas. Revista Motrivivência. Ano XXII, Nº 34, P. 40-60 Jun./2010.


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Tecnologia Assistiva



Como sugestão de leitura, deixamos:


GALVÃO FILHO, T. A. A Tecnologia Assistiva: de que se trata? In: MACHADO, G. J. C.; SOBRAL, M. N. (Orgs.). Conexões: educação, comunicação, inclusão e interculturalidade. 1 ed. Porto Alegre: Redes Editora, p. 207-235, 2009.

E como indicação de site para conhecer um pouco mais sobre a temática, sugerimos:   





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Provocante essa ilustração não é?
Quando vi esta gravura, logo fiz um link com a temática da Interatividade que foi muito bem discutida na última aula do dia 08/05. Os colegas Ugo, Sigmar e Harley trouxeram uma dinâmica que proporcionou bastante interação com a turma, com os ouvintes da rádio Faced e também através do Twiter. 
Entender e refletir sobre a Interatividade a partir de concepções várias, nos faz pensar o quanto a sociedade tem mudado sua forma de viver e conviver nesse novo cenário em que as tecnologias da informação e comunicação nos abre um leque de possibilidades de  inserção e participação no mundo social.
Vale a pena pensar sobre essas transformações e especialmente sobre os impactos que as mesmas tem causado nas mais diversas esferas da sociedade!

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INCLUSÃO DIGITAL E CIBERCIDADANIA


Ouve-se muito falar em inclusão. Na educação e na sociedade busca-se a inclusão nas mais diversas situações, criam-se leis para incluir o portador de necessidades educativas especiais (nas deficiências: física, intelectual, visual e auditiva), o índio e o negro, gasta-se muito para garantir a acessibilidade através de recursos que a possibilite e de propagandas para chamar a atenção de todos em prol da inclusão e mesmo assim, ainda constatamos que há muito a se fazer para que efetivamente a inclusão aconteça nas escolsa, nas ruas, nos transportes coletivos, nas repartições públicas, etc. Na “sociedade da informação”, “cibercultura”, “era digital” ou em outras palavras utilizadas para expressar o contexto atual, surge outro tipo de inclusão: a Inclusão Digital. Essa expressão nos remete a ideia de inserção de todos na “codificação digital”, na digitalização com seu caráter plástico, fluido, hipertextual, interativo e tratável a partir de seus “bits”.  Digital significa a existência imaterial de vários recursos, o que permite múltiplas formatações e intervenções dos seus usuários.
 



Mas qual a relação entre a Inclusão citada nas primeiras linhas e a Inclusão Digital? Analisando inicialmente, penso que a primeira, busca a participação de todos de forma menos desigual na vida em sociedade e a segunda, visa inserir os usuários na era do digital. Esses termos me remetem a ideia de que todas as pessoas devem ter acesso de forma igualitária nas mais diversas formas de inserção e participação social no cumprimento de seus deveres e uso de seus direitos a partir dos princípios da cidadania.



 Interessante trazer aqui algumas ideias de Tomás Patrocínio no texto Para uma genealogia da cidadania digital, que discute sobre a cidadania ao longo da história e nos situa nesse modelo de inclusão no contexto da sociedade tecnológica digital globalizada. O autor inicialmente faz um breve percurso histórico em torno do conceito de cidadania, desde a Grécia antiga que relaciona o termo cidadania a vivência na pólis e relacionada ao exercício do poder, como mecanismos de representação e de direitos. Mais tarde, a cidadania se configura como obra da cultura e que só existe num quadro cultural onde só se exerce associadas apenas aos espaços nacionais e às culturas nacionais. Já na sociedade moderna, a cidadania passa a ser compreendida como o princípio da legitimidade política e a fonte do vínculo social, definindo-se como um projeto de inclusão de todos os cidadãos. Nesse último, o autor traz a crítica da “utopia criadora” onde os homens são diferentes e a sociedade é formada por grupos desiguais, participando de forma desigual em todas as dimensões de vida coletiva, havendo aí uma contradição com a ideia da igualdade de direitos proposta pela cidadania.



 Na sociedade contemporânea, nos inserimos no contexto da emergência da cidadania digital com a intensificação da informação através dos meios de informação e das tecnologias da comunicação. O novo cidadão, o  cibercidadão vivencia e exerce seus direitos e deveres agora de forma mais ampla e universal – “multiculturalmente”, tendo que estar além de si próprio e do seu espaço nacional neste ciberespaço. Mas o que seria mesmo exercer a cibercidadania? Seria apenas saber atuar nesse ciberespaço, ter acesso a conectividade e saber consumir online? Quais as perspectivas de atuação desse cibercidadão?



 Analisando a rede social Facebook, podemos trazer um breve e claro exemplo do que propõe a cibercidadania, onde os grupos sociais utilizam o potencial de comunicação como forma de agregação social, sociabilidade e participação no ciberespaço com atuação online nas esferas política e social, interferindo de uma certa forma no mundo virtual e real. Cabe aqui trazer uma reflexão sobre a importância de se fazer uso correto, consciente e ético, onde o indivíduo reflete sobre si próprio ao se tornar o produtor e consumidor de informações de maneira inteligente, para obter, produzir e socializar conhecimentos das mais diversas naturezas.
 



Inquieta-nos pensar na ralação da cibercidadania com a educação. Por um lado, a inclusão digital é contemplada de maneira quase que absoluta nas escolas, nos seus mais modernos recursos tecnológicos, incluindo o cidadão de forma plena nessa nova cultura da era global, favorecendo apenas a uma pequena parte da população mais privilegiada. Por outro lado, acompanhamos os passos lentos dessa inclusão, enquanto parte visível de uma das dimensões da luta contra a exclusão social numa proposta efetiva das tecnologias da informação e comunicação no cotidiano e realidade das escolas públicas  em geral no sentido de contribuir na formação dos nossos alunos para atuar no ciberespaço e exercer a sua cibercidadania de forma menos desigual nessa proposta de inclusão digital à maioria menos favorecida.

  





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As tecnologias são a medida de nossa salvação ou a causa de nossa perdição?

O título acima é um fragmento que me chamou a atenção ao ler o texto de Lúcia Santaella. Reescrevi aqui alguns trechos para refletirmos um pouco sobre a cultura das mídias,  a cibercultura na pós- modernidade e o conceito de pós – humano.

É bem verdade que, corroborando com Santaella, as novas tecnologias da informação e comunicação tem mudado toda a cultura em geral, o desenvolvimento tecnológico tem reverberado toda a estrutura das sociedades capitalistas avançadas, cabendo a estudantes e pesquisadores dessa temática, compreender de modo mais efetivo as complexidades com que a realidade em mutação nos desafia, pois os nossos esforços tanto de observação empírica, quanto de clareza conceitual, devem se analisados cuidadosamente se pretendemos trazer alguma contribuição para a compreensão menos superficial da complexidade no cotidiano.

As eras culturais ou as formações culturais das sociedades, intituladas assim por Santaella e outros autores, foram inicialmente moldadas tão somente pela oralidade, depois pela escrita e mais tarde pela indústria eletrônica. Essas mudanças não se tratam de culturas lineares, como se uma fosse desaparecendo a partir do surgimento da outra, mas sim, um cumulativo de complexificações numa nova formatação comunicativa e cultural que se integra a anterior reajustando e refuncionalizando.

Os meios e os processos de recepção que com o passar do tempo foram sendo aperfeiçoados, “modernizados” e consequentemente substituídos, marcaram a inserção dos meios digitais cuja marca principal está na busca alinear, dispersa e fragmentada da informação, refletindo na vida em sociedades e suas conseqüências.  

Sintetizando o conceito de Santaella sobre a  cultura das mídias, entendemos que se trata de uma cultura intermediária que surgiu da cultura das massas e foi sendo semeada por processos comunicacionais, fertilizando gradativamente o atual terreno sociocultural. Nela, ocorre a convergência das mídias, responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atinge nos dias atuais.

A tecnologia é criatura humana e passou a ser essencial na cultura contemporânea, carregando dessa forma as nossas contradições e paradoxos. Sendo também a cibercultura  criada pelo homem, as máquinas estão cada vez mais parecidas com o ser humano e não o contrário. Nesse cenário o pós-humanos surge do repensar o humano nesse vir-a-ser tecnológico do mundo, nas grandes transformações  que as novas tecnologias da comunicação estão trazendo para tudo o que diz respeito a vida humana no plano psíquico, social e antropológico, “trata-se de um passo evolutivo da espécie”. Não podemos deixar passar despercebido as reflexões sobre essas modificações que os seres humanos vem passando em todos os seus aspectos.

SANTAELLA Lúcia, Da cultura das mídias à cibercultura: O advento do pós-humano. 



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Para ver e refletir um pouco....

 
O sociólogo no decorrer deste vídeo nos faz entender e refletir um pouco sobre várias questões relacionadas a condição humana na vida pós-moderna, com aspectos do viver em sociedade nas suas construções históricas e seus dilemas atuais, que passou da sociedade de produção para a de consumo, como também dos aspectos relacionados a subjetividade do ser, discutindo sobre a  identidade e citando Sartre quando fala sobre os projetos de vida, tentando nos mostrar que na fragmentação da vida humana, as pessoas ao invés de herdarem, criam sua própria identidade, pois as formas de vida têm mudado constantemente.  Ele também coloca que as sociedades foram individualizadas, o que nos mostra uma contradição, quando pensamos que vivemos na era da globalização, das “redes”, da relação de interdependência.
Bauman nos faz pensar sobre as diferentes relações sociais que se estabelecem, sendo que nos dias de hoje os laços construídos partem da ideia de comunidade de relações de redes digitais, com duas funções apenas, a de conectar e a de se desconectar, bastando um clique para se desfazer de uma “amizade”, na mesma facilidade para iniciar outras, o que se diferencia bastante das relações humanas sólidas, construídas a partir de conquistas, de confiança e de sentimentos. Isto me faz pensar um pouco sobre as transformações que venho acompanhando ao longo do que tenho vivido. Nasci na década de 80, numa cidade do interior da Bahia e me lembro bem de como se davam as relações na época de minha infância, que ao serem comparadas com as que observo, tomando como base a vida dos meus familiares que hoje desfrutam da infância, noto que a atual fase configura-se como uma espécie de “imitação da vida adulta”. Não se permite mais que, ao contrário do que vivi na infância (onde as crianças vizinhas formavam um grande grupo para brincar de esconde-esconde, pega-pega, baleô, pula-corda ou amarelinha até certa hora da noite ou que se reuniam para contar histórias de assombração) as crianças de hoje estabeleçam laços, pois os playstations ocuparam os espaços e  só permitem dois ou três jogadores e que ao se cansarem desse tipo de brincadeira, fazem uso de outras tecnologias na mais habilidosa arte de utilizá-las. Os brinquedos que antes me causavam tanta emoção já estão ultrapassados para as crianças de hoje e foram substituídos por celulares, PSPs, notebooks, etc. Nessa lógica, temos como conseqüência a desvalorização das relações humanas. Se tenho sólidas amizades construídas na infância, imagino que as crianças de hoje não possuirão esse bem no futuro. Vemos como resultado disso, uma vida sem apegos, sem projetos mais humanos, sem relações mais sólidas, sem perspectivas de humanização.
Muito interessante também a reflexão sobre liberdade e segurança – a ambivalência da civilização - e o desencontro de ambas. Ele diz que: segurança sem liberdade é escravidão e liberdade sem segurança é um caos. E é nessa escravidão que vivemos hoje para nos proteger dos outros. Para ele a busca desse encontro será incessante e impossível de acontecer. A felicidade também é discutida pelo sociólogo, ao tentar nos mostrar que há muitas formas de ser feliz. Fala sobre o destino e o caráter, sendo que sobre o primeiro, não temos nenhuma influência e nossas escolhas sobre o nosso destino depende do nosso tipo de caráter, não havendo receitas para a felicidade, dessa forma, devemos ser como Sócrates, que criou a sua própria forma de viver.

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  A Modernidade Líquida de Bauman


Este texto é uma breve síntese e reflexão das ideias da obra “Modernidade Líquida”, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, mais especificamente do Prefácio (Ser Leve e Líquido) e do Capítulo III (Tempo/Espaço), que traz algumas metáforas para nos fazer refletir sobre a sociedade ao longo dos tempos e sobre o status da modernidade.

No prefácio da obra, Bauman inicia falando sobre a fluidez ou liquidez, como uma metáfora para o estágio presente da era moderna, que capta a natureza nova na era da modernidade e nos faz refletir sobre as consequências que essa transformação social está trazendo para as relações entre as pessoas e para a vida em geral. Derreter os sólidos significa eliminar o que se considera irrelevante na era da racionalidade e levar aos avanços progressivos na economia de seus embaraços políticos, éticos e culturais. A solidez das instituições sociais (a família, o governo, as relações de trabalho, etc.) está perdendo espaço para o fenômeno de liquefação. De acordo com essa metáfora, a solidez dessas instituições, firmes e inabaláveis, estão se derretendo, transformando-se, irreversivelmente, num estado líquido que tem como característica principal a capacidade de moldar-se em relação as mais diversas estruturas. Neste tempo de transformações no relacionamento humano, os laços afetivos e sociais acabam se tornando o centro da questão e a liquefação dessas antes solidas instituições evidenciam um tempo de desapego e uma suposta sensação ilusória e provisória de liberdade que, na verdade, traz consigo um desapego social em que nós nos encontramos. 

Na era da modernidade líquida o que está em jogo não é a conquista do novo território, mas a destruição das muralhas que impediam o fluxo dos novos e fluidos poderes globais e a capacidade de moldar-se em relação a infinitas estruturas e estes são algumas das características que o estado liquefeito conferirá às tantas esferas dos relacionamentos humanos, o que provoca a desintegração da rede social cada vez mais móvel, escorregadio, evasivo e fugitivo, sendo isso, um resultado e uma condição da nova técnica do poder, que pretendem uma contínua e crescente fluidez, como principal  força e garantia de sua invencibilidade.

No capítulo 3 (tempo/espaço) da obra, Bauman nos faz refletir sobre o modo de vida em comunidade, iniciando a partir da descrição de um espaço definida por suas fronteiras vigiadas de perto, para controlar a entrada de pessoas estranhas, compartimentando espaços públicos com acesso seletivo, em que a separação no lugar da vida em comum é a principal dimensão da evolução corrente da vida urbana. Para refletir sobre isso, o autor traz a definição de Richard Sennett, sobre a cidade que é um assentamento humano em que os estranhos têm a chance de se encontrar e que nesse momento não há espaço para aprendizagens a partir dos erros ou expectativas de outras oportunidades. Usar uma máscara é a essência da civilidade, pois permitem a sociabilidade pura diante das circunstâncias do poder, do mal-estar, dos sentimentos privados das pessoas, etc. Devendo ser a civilidade uma característica da situação social no meio urbano, propício à prática individual da civilidade. 

As categorias de espaços públicos mas não civis são trazidas a reflexão pelo autor quando destaca que a primeira delas se refere aos monumentos pomposos construídos e as praças imponentes atuais, porque são inacessíveis, reforçando-se e complementando-se mutuamente. Já a segunda categoria se destina a servir aos consumidores, sendo o consumo, o passatempo absoluto que só podem ser sentidos subjetivamente. 

Bauman escreve sobre a  relação humana a partir da ideia de alteridade. Para isso, vai buscar no antropólogo Claude Lévi-Strauss (Tristes Trópicos) dois conceitos: antropoêmicas e antropofágicas. Sendo que o primeiro visa a aniquilação ou exílio dos outros e o segundo a suspensão ou aniquilação de sua alteridade. Em continuação a essa reflexão, o autor fala sobre os lugares êmicos (separação espacial, acesso seletivo para o impedimento ao contato físico, ao diálogo e a interação social, visando o exílio e a aniquilação dos outros.), lugares fágicos (desalienação, suspensão e aniquilação de sua alteridade, são as cruzadas culturais, as guerras, os cultos, etc.) Os não-lugares (são espaços destituídos de expressões simbólicas de identidade, relações e histórias, são os aeroportos, auto-estrada, hotéis, etc.) e os espaços vazios (são os lugares não colonizados e excluídos dentro da cidade). 

Os espaços “públicos-não-civis” mantêm a pose irrelevante e desnecessária para a prática da arte do viver urbano. Esses espaços permitem que lavemos nossas mãos de qualquer intercâmbio com estranhos a nossa volta, evitando a comunicação e as relações sociais. O não fale com estranhos tornou-se o preceito estratégico da normalidade adulta, reafirmando como regra de prudência a realidade de uma vida em que os estranhos são pessoas com quem nos recusemos a falar. 

Nas reflexões sobre o tempo e espaço, Bauman traz a história do tempo, que para ele começou com a modernidade, a emancipação do tempo em relação ao espaço, sua subordinação à inventividade e à capacidade técnica humana, a colocação do tempo contra o espaço como ferramenta da conquista do espaço, isso veio significar a aceleração do movimento como meio de ampliar o espaço, passando da modernidade pesada a modernidade leve.

A modernidade pesada, na era dos Hardware se refere a era tradicionalmente instrumental, o tempo era o meio que precisava ser administrado prudentemente para que o espaço pudesse ser maximizado e a moderindade leve na era dos Software, é a era da eficácia do tempo como meio de alcançar valor no campo dos objetivos potenciais.  A moderindade pesada mantinha o capital e o trabalho, já a modernidade leve permitiu a saída de um deles, demonstrando uma evolução política e econômica do trabalho e do capital que estavam juntas, ficando o capital contemporâneo livre da mão-de-obra humana. Sendo isso hoje a principal base da dominação e o principal fator das divisões sociais, em que se vive o jogo da competição, da fusão e da redução de tamanhos.

Na modernidade sólida a duração eterna é o principal motivo e princípio da ação, a modernidade fluida não tem função para a duração eterna. O curto prazo substitui o longo prazo. A nova instantaneidade do tempo muda o convívio humano e o modo como os humanos cuidam de seus afazeres coletivos e o modo como se transformam certas questões em questões coletivas. A escolha da era da instantaneidade significa buscar a gratificação evitando as consequências e particularmente as responsabilidades que elas podem implicar na vida humana.

A modernidade líquida que adentra nas famílias, na escola e na vida em sociedade de uma maneira geral nos faz ver que somos o molde do que as mudanças ocorridas ao longo dos tempos, bem como os valores atuais nos proporcionaram. Ser professor nessa nova era significa inserir-se nesse contexto e enfrentar os desafios ao qual está sujeito, quer seja de forma passiva ou ao menos reflexiva quanto a esse novo modelo de sociedade construído.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001 (Prefácio e capítulo 3).

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