INCLUSÃO DIGITAL E CIBERCIDADANIA


Ouve-se muito falar em inclusão. Na educação e na sociedade busca-se a inclusão nas mais diversas situações, criam-se leis para incluir o portador de necessidades educativas especiais (nas deficiências: física, intelectual, visual e auditiva), o índio e o negro, gasta-se muito para garantir a acessibilidade através de recursos que a possibilite e de propagandas para chamar a atenção de todos em prol da inclusão e mesmo assim, ainda constatamos que há muito a se fazer para que efetivamente a inclusão aconteça nas escolsa, nas ruas, nos transportes coletivos, nas repartições públicas, etc. Na “sociedade da informação”, “cibercultura”, “era digital” ou em outras palavras utilizadas para expressar o contexto atual, surge outro tipo de inclusão: a Inclusão Digital. Essa expressão nos remete a ideia de inserção de todos na “codificação digital”, na digitalização com seu caráter plástico, fluido, hipertextual, interativo e tratável a partir de seus “bits”.  Digital significa a existência imaterial de vários recursos, o que permite múltiplas formatações e intervenções dos seus usuários.
 



Mas qual a relação entre a Inclusão citada nas primeiras linhas e a Inclusão Digital? Analisando inicialmente, penso que a primeira, busca a participação de todos de forma menos desigual na vida em sociedade e a segunda, visa inserir os usuários na era do digital. Esses termos me remetem a ideia de que todas as pessoas devem ter acesso de forma igualitária nas mais diversas formas de inserção e participação social no cumprimento de seus deveres e uso de seus direitos a partir dos princípios da cidadania.



 Interessante trazer aqui algumas ideias de Tomás Patrocínio no texto Para uma genealogia da cidadania digital, que discute sobre a cidadania ao longo da história e nos situa nesse modelo de inclusão no contexto da sociedade tecnológica digital globalizada. O autor inicialmente faz um breve percurso histórico em torno do conceito de cidadania, desde a Grécia antiga que relaciona o termo cidadania a vivência na pólis e relacionada ao exercício do poder, como mecanismos de representação e de direitos. Mais tarde, a cidadania se configura como obra da cultura e que só existe num quadro cultural onde só se exerce associadas apenas aos espaços nacionais e às culturas nacionais. Já na sociedade moderna, a cidadania passa a ser compreendida como o princípio da legitimidade política e a fonte do vínculo social, definindo-se como um projeto de inclusão de todos os cidadãos. Nesse último, o autor traz a crítica da “utopia criadora” onde os homens são diferentes e a sociedade é formada por grupos desiguais, participando de forma desigual em todas as dimensões de vida coletiva, havendo aí uma contradição com a ideia da igualdade de direitos proposta pela cidadania.



 Na sociedade contemporânea, nos inserimos no contexto da emergência da cidadania digital com a intensificação da informação através dos meios de informação e das tecnologias da comunicação. O novo cidadão, o  cibercidadão vivencia e exerce seus direitos e deveres agora de forma mais ampla e universal – “multiculturalmente”, tendo que estar além de si próprio e do seu espaço nacional neste ciberespaço. Mas o que seria mesmo exercer a cibercidadania? Seria apenas saber atuar nesse ciberespaço, ter acesso a conectividade e saber consumir online? Quais as perspectivas de atuação desse cibercidadão?



 Analisando a rede social Facebook, podemos trazer um breve e claro exemplo do que propõe a cibercidadania, onde os grupos sociais utilizam o potencial de comunicação como forma de agregação social, sociabilidade e participação no ciberespaço com atuação online nas esferas política e social, interferindo de uma certa forma no mundo virtual e real. Cabe aqui trazer uma reflexão sobre a importância de se fazer uso correto, consciente e ético, onde o indivíduo reflete sobre si próprio ao se tornar o produtor e consumidor de informações de maneira inteligente, para obter, produzir e socializar conhecimentos das mais diversas naturezas.
 



Inquieta-nos pensar na ralação da cibercidadania com a educação. Por um lado, a inclusão digital é contemplada de maneira quase que absoluta nas escolas, nos seus mais modernos recursos tecnológicos, incluindo o cidadão de forma plena nessa nova cultura da era global, favorecendo apenas a uma pequena parte da população mais privilegiada. Por outro lado, acompanhamos os passos lentos dessa inclusão, enquanto parte visível de uma das dimensões da luta contra a exclusão social numa proposta efetiva das tecnologias da informação e comunicação no cotidiano e realidade das escolas públicas  em geral no sentido de contribuir na formação dos nossos alunos para atuar no ciberespaço e exercer a sua cibercidadania de forma menos desigual nessa proposta de inclusão digital à maioria menos favorecida.

  





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As tecnologias são a medida de nossa salvação ou a causa de nossa perdição?

O título acima é um fragmento que me chamou a atenção ao ler o texto de Lúcia Santaella. Reescrevi aqui alguns trechos para refletirmos um pouco sobre a cultura das mídias,  a cibercultura na pós- modernidade e o conceito de pós – humano.

É bem verdade que, corroborando com Santaella, as novas tecnologias da informação e comunicação tem mudado toda a cultura em geral, o desenvolvimento tecnológico tem reverberado toda a estrutura das sociedades capitalistas avançadas, cabendo a estudantes e pesquisadores dessa temática, compreender de modo mais efetivo as complexidades com que a realidade em mutação nos desafia, pois os nossos esforços tanto de observação empírica, quanto de clareza conceitual, devem se analisados cuidadosamente se pretendemos trazer alguma contribuição para a compreensão menos superficial da complexidade no cotidiano.

As eras culturais ou as formações culturais das sociedades, intituladas assim por Santaella e outros autores, foram inicialmente moldadas tão somente pela oralidade, depois pela escrita e mais tarde pela indústria eletrônica. Essas mudanças não se tratam de culturas lineares, como se uma fosse desaparecendo a partir do surgimento da outra, mas sim, um cumulativo de complexificações numa nova formatação comunicativa e cultural que se integra a anterior reajustando e refuncionalizando.

Os meios e os processos de recepção que com o passar do tempo foram sendo aperfeiçoados, “modernizados” e consequentemente substituídos, marcaram a inserção dos meios digitais cuja marca principal está na busca alinear, dispersa e fragmentada da informação, refletindo na vida em sociedades e suas conseqüências.  

Sintetizando o conceito de Santaella sobre a  cultura das mídias, entendemos que se trata de uma cultura intermediária que surgiu da cultura das massas e foi sendo semeada por processos comunicacionais, fertilizando gradativamente o atual terreno sociocultural. Nela, ocorre a convergência das mídias, responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atinge nos dias atuais.

A tecnologia é criatura humana e passou a ser essencial na cultura contemporânea, carregando dessa forma as nossas contradições e paradoxos. Sendo também a cibercultura  criada pelo homem, as máquinas estão cada vez mais parecidas com o ser humano e não o contrário. Nesse cenário o pós-humanos surge do repensar o humano nesse vir-a-ser tecnológico do mundo, nas grandes transformações  que as novas tecnologias da comunicação estão trazendo para tudo o que diz respeito a vida humana no plano psíquico, social e antropológico, “trata-se de um passo evolutivo da espécie”. Não podemos deixar passar despercebido as reflexões sobre essas modificações que os seres humanos vem passando em todos os seus aspectos.

SANTAELLA Lúcia, Da cultura das mídias à cibercultura: O advento do pós-humano. 



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